Relatos de um mestrado no exterior
Está em dúvida em fazer mestrado ou estudar no exterior? Confira o depoimento de nossa ex-aluna Amanda Amélia Vargas de Queiroz e veja como os caminhos da pesquisa e do conhecimento são fascinantes.
“Ao contrário da maioria das pessoas que optam por um mestrado, minha trajetória não foi exatamente linear. Inicialmente, eu não tinha muita certeza do que queria cursar. Durante minha graduação no Izabela Hendrix, como todo formando, tive dúvidas sobre qual das diversas áreas da arquitetura seguir, o que me fez ansiar por algo que afunilasse meu nicho profissional. Por sorte, tive ao meu lado tutores que acreditaram no meu potencial e me aconselharam a fazer um curso fora do País.
Foi um ano e meio de muita preparação e pesquisa para encontrar o curso que mais se encaixasse no meu perfil. Destes, cerca de seis meses direcionados aos intermináveis trâmites de visto. Para quem vai à Itália, devo avisar que o visto é extremamente burocrático.
Durante meu período de Mestrado tive o privilégio de estudar Design de Interiores na SPD (Scuola Politecnica di Design), em Milão. Eu estava disposta a experimentar, acreditando que de uma forma ou de outra aquilo que eu aprendesse seria útil. E devo dizer, os benefícios e vantagens que essa experiência me proporcionou vão além do âmbito profissional.
Uma vez na Europa, começaram os contrastes, começando pela parte acadêmica. Foi muito enriquecedor conhecer diferentes sistemas de ensino e design de projetos, assim como conviver com alunos e professores de diversas nacionalidades. Foi uma incrível fusão de culturas, experiências e hábitos.
Na SPD eu tive a oportunidade de estudar num ambiente totalmente diferente, com outra rotina e principalmente explorando o aprendizado de outras formas. Na Itália o conceito de colaboração é muito forte, e notável inclusive no mercado de trabalho. Por isso mesmo, a didática dos cursos é altamente baseada em trabalhos em grupo e colaborações com estúdios e clientes reais.Também é possível notar variação em matérias como historia, e desenhos técnicos, que apresentam temas distintos, se comparados com os aplicados no Brasil, seja por diferenças geográficas, culturais ou enfoques diferentes.
Outro ponto positivo foi a oportunidade dada pela universidade de estagiar em um escritório de Design de Interiores por três meses em período integral. No decorrer do estágio, tive acesso a fornecedores, clientes e compreendi melhor o mercado de trabalho da Itália. Visitei feiras de design e inovações, além de workshops promovidos pelos escritórios colaboradores. Tive a sorte de trabalhar em um Studio de Malta, que me proporcionou viagens e contatos fora da Itália, o que ampliou mais ainda meu olhar sobre as infinitas possibilidades do design e da inexistência de fronteiras na Europa.
Algo que fez grande diferença na minha experiência foi o lugar onde eu morei. Na Itália, em especial em Milão, não existem repúblicas de estudantes como nós estamos habituados. Existem várias pessoas que dividem apartamentos ou alugam quartos. No meu caso, morei em um dormitório estudantil, chamado Collegio di Milano, um verdadeiro colégio, que acolhia mais ou menos 300 estudantes, entre eles italianos e estrangeiros. Os apartamentos eram duplos e eu tive a oportunidade de morar (em períodos diferentes) com estudantes de diversas nacionalidades (egípcia, russa e ucraniana). Lá, tive uma experiência multicultural intensa que ultrapassou a área profissional. Eu construí uma família de amigos que quero levar para a vida toda.
Meu aprendizado pessoal através do meu eclético grupo de amigos, se igualaria sem sombra de dúvidas ao meu aprendizado acadêmico. É muito interessante também ver a ideia que eles têm do Brasil e do brasileiro. Acredito que através da visão deles acabei aprimorando minha capacidade de opinar a respeito da situação em que o Brasil se encontra em relação ao mundo.
Meu senso crítico foi uma das coisas que mais mudou, desde minha vinda para a Europa. Posso dizer sem exageros, que joguei um belo caminhão de esteriótipos pela janela. Tudo aquilo que aprendemos sobre pessoas de outros países, clássicos como: francês não toma banho, italiano cozinha bem, inglês é cheio de frescura, entre outros. Falo que todos, sem exceção, me surpreenderam. No final das contas a melhor coisa, é ir de cabeça aberta e disposto a conhecer pessoas.
Culturas e hábitos diferentes podem gerar estranhamento e até mesmo tornar-se um obstáculo para conhecer pessoas novas. Porém o ser humano é muito adaptável, e logo os estilos de vida se misturam (adaptação e empatia são essenciais em outro país). Se eu pudesse dar um conselho aos que buscam cursos no exterior, eu diria: evitem grupos de brasileiros.
Quando estamos fora de casa é muito fácil cair na tentação de se rodear por nossos iguais, mas acreditem, isso só nos deixa preguiçosos para aprender uma língua nova, e mais resistente com novas culturas.
Para concluir, quero dizer que essa foi uma experiência muito rica, que me abriu os olhos para as diferenças de mercado de trabalho e design Brasil- Itália. Acho que como profissional, me ajudou muito a encontrar meu nicho, que é o Design de Interiores com ênfase na área comercial e de eventos. Desejo a todos aqueles que buscam seguir esse caminho boa sorte. Não é um caminho fácil, e definitivamente não é um objetivo com apenas um caminho. Mas trabalho duro, adaptação e pesquisa são as palavras chaves para atingi-lo.”
Amanda Amelia Vargas de Queiroz
Arquiteta e Design de Interiores