A força global de todo movimento social local
por Adilson Schultz
Um movimento social legítimo e bem sucedido sempre almeja grandes transformações sociais; mais globais que locais. Ao lutar por direitos específicos de determinada categoria, os movimentos sociais formados por grupos mais explorados socialmente acabam forjando as perspectivas de um futuro melhor para a sociedade e a humanidade como um todo. A luta por melhores salários de uma determinada categoria, por exemplo, acaba pautando a luta de outras categorias. Conseguem, assim, ampliar o alcance de causas e objetivos inicialmente individuais ou específicos para causas coletivas ou gerais.
Nesse sentido, o movimento social opera uma espécie de educação social, pois reivindica para a sociedade uma outra estrutura, toda uma inversão da lógica mercantil e liberal baseada no indivíduo e seu sucesso ou direito, sugerindo à sociedade a idéia da organização baseada na coletividade. Ao invés do apelo ao direito ou sucesso profissional ou trabalhista individual, prevalece a luta pelo direito social coletivo do agente social. Ou seja: o trabalhador ou a trabalhadora deixam de ser apenas indivíduos de direitos e passam a ser artífices de um novo tipo de organização social.
As greves do ABC no início dos anos 1980 são um bom exemplo da ampliação da perspectiva do movimento social do local para o global. Elas começam com uma demanda salarial, contra o arrocho salarial, e no fim, suas conquistas acabam beneficiando toda a classe trabalhadora, que terá reajustes salariais também, e depois beneficiando toda a sociedade, não apenas na questão salarial, mas na sua luta por democracia. Ou seja, a demanda salarial ganharia uma dimensão política não imaginada no início, e o movimento de greve por salário no ABC contribuirá decisivamente para a queda do regime militar. E mais: de forma indireta, coloca em pauta um novo sujeito no cenário político nacional e na luta pela democratização, o sujeito “classe social”: o debate da redemocratização passa a ser feito pelos trabalhadores assalariados mais pobres e organizados em sindicatos, o que terá um impacto simbólico decisivo, visto que antes a representação da luta anti-ditadura estava na mão de estudantes, intelectuais, artistas e políticos de esquerda.
Um exemplo mais recente de movimento social local que vira global pode ser citado a luta do movimento “Economia Solidária”, organizado em torno das demandas de comércio justo, fomento à micro-produção doméstica e familiar, e justa distribuição de renda. Ao propor feiras populares com produtos fora do âmbito industrial ou comercial clássico, os artesãos abrem novas perspectivas de organização do mercado, que ajudam a livrar a sociedade como um todo da ditadura do mercado único e formal. Ao propor associações de produtores domésticos, buscam criar nova consciência de classe e, ao mesmo tempo, sensibilizar a sociedade para que supere a clássica divisão entre quem pode consumir e quem não pode. A economia solidária é um exercício de ante-capitalismo, sugerindo um novo modelo de mundo possível.
Assim, os movimentos sociais mexem profundamente com a própria consciência individual e pessoal. São forças coletivas, que trazem à tona demandas coletivas, visando o bem coletivo. A experiência da coletivização das demandas mexe com a percepção que o sujeito tem de si e dos direitos dos outros. Expõe o conflito de classes, o confronto de idéias, e assim cria um ambiente mais seguro e emancipatório para ser. A idéia do indivíduo com direitos é substituída por aquela do agente social que quer uma sociedade mais justa. O sujeito não é mais um indivíduo isolado, mas uma força social, que pode mudar a história. No fim, o legado dos movimentos sociais forjados pelas classes mais oprimidas acaba por carregar consigo o sonho de uma sociedade mais justa. Indiretamente fornece a todas as pessoas a perspectiva de um projeto de futuro social mais justo, que pare de aprofundar a diferenciação ou exclusão social. Esta é a gênese de todo movimento social bem sucedido: sua causa é a coletividade, diz que somos todos iguais, que passa pela reivindicação específica, mas se nutre de causas gerais. Diz que a sociedade quer virar uma comunidade.
Nesse sentido, o movimento social opera uma espécie de educação social, pois reivindica para a sociedade uma outra estrutura, toda uma inversão da lógica mercantil e liberal baseada no indivíduo e seu sucesso ou direito, sugerindo à sociedade a idéia da organização baseada na coletividade. Ao invés do apelo ao direito ou sucesso profissional ou trabalhista individual, prevalece a luta pelo direito social coletivo do agente social. Ou seja: o trabalhador ou a trabalhadora deixam de ser apenas indivíduos de direitos e passam a ser artífices de um novo tipo de organização social.
As greves do ABC no início dos anos 1980 são um bom exemplo da ampliação da perspectiva do movimento social do local para o global. Elas começam com uma demanda salarial, contra o arrocho salarial, e no fim, suas conquistas acabam beneficiando toda a classe trabalhadora, que terá reajustes salariais também, e depois beneficiando toda a sociedade, não apenas na questão salarial, mas na sua luta por democracia. Ou seja, a demanda salarial ganharia uma dimensão política não imaginada no início, e o movimento de greve por salário no ABC contribuirá decisivamente para a queda do regime militar. E mais: de forma indireta, coloca em pauta um novo sujeito no cenário político nacional e na luta pela democratização, o sujeito “classe social”: o debate da redemocratização passa a ser feito pelos trabalhadores assalariados mais pobres e organizados em sindicatos, o que terá um impacto simbólico decisivo, visto que antes a representação da luta anti-ditadura estava na mão de estudantes, intelectuais, artistas e políticos de esquerda.
Um exemplo mais recente de movimento social local que vira global pode ser citado a luta do movimento “Economia Solidária”, organizado em torno das demandas de comércio justo, fomento à micro-produção doméstica e familiar, e justa distribuição de renda. Ao propor feiras populares com produtos fora do âmbito industrial ou comercial clássico, os artesãos abrem novas perspectivas de organização do mercado, que ajudam a livrar a sociedade como um todo da ditadura do mercado único e formal. Ao propor associações de produtores domésticos, buscam criar nova consciência de classe e, ao mesmo tempo, sensibilizar a sociedade para que supere a clássica divisão entre quem pode consumir e quem não pode. A economia solidária é um exercício de ante-capitalismo, sugerindo um novo modelo de mundo possível.
Assim, os movimentos sociais mexem profundamente com a própria consciência individual e pessoal. São forças coletivas, que trazem à tona demandas coletivas, visando o bem coletivo. A experiência da coletivização das demandas mexe com a percepção que o sujeito tem de si e dos direitos dos outros. Expõe o conflito de classes, o confronto de idéias, e assim cria um ambiente mais seguro e emancipatório para ser. A idéia do indivíduo com direitos é substituída por aquela do agente social que quer uma sociedade mais justa. O sujeito não é mais um indivíduo isolado, mas uma força social, que pode mudar a história. No fim, o legado dos movimentos sociais forjados pelas classes mais oprimidas acaba por carregar consigo o sonho de uma sociedade mais justa. Indiretamente fornece a todas as pessoas a perspectiva de um projeto de futuro social mais justo, que pare de aprofundar a diferenciação ou exclusão social. Esta é a gênese de todo movimento social bem sucedido: sua causa é a coletividade, diz que somos todos iguais, que passa pela reivindicação específica, mas se nutre de causas gerais. Diz que a sociedade quer virar uma comunidade.